Você já ouviu falar em "cultura do cancelamento"? Esse termo tem ganhado muita força nas redes sociais e se tornou um ponto quente de debates. Mas afinal, o que é cultura do cancelamento?
De forma resumida, é quando um grupo de pessoas decide "cancelar" ou boicotar alguém – seja uma celebridade, marca ou até um desconhecido nas redes sociais – devido a algo considerado controverso, injusto ou moralmente condenável.
Nesse artigo, vamos falar sobre isso tem afetado a vida e o psicológico de quem passa pelo problema.
Como Surgiu a Cultura do Cancelamento?
A cultura do cancelamento não é exatamente nova. Ela surgiu da ideia de boicote e tem origens históricas.
Embora hoje associemos o termo às redes sociais, a prática de excluir ou boicotar indivíduos ou grupos por suas ações ou crenças é uma tática antiga, adaptada ao longo dos séculos para atender às necessidades de justiça social de cada época.
Na Grécia Antiga, o ostracismo era uma prática na antiga em que os cidadãos votavam para banir uma pessoa da cidade-estado por 10 anos. Era usado para proteger a cidade de indivíduos considerados uma ameaça.
Durante o movimento abolicionista na Inglaterra, o boicote ao açúcar produzido por escravos nas Índias Ocidentais, promoveu o consumo de açúcar que não envolvia trabalho escravo, para protestar contra a escravidão.
O boicote ao ônibus de Montgomery nos mostra a força de ações coletivas contra injustiças sociais, lideradas por figuras como Rosa Parks. Parks foi cancelada pelas autoridades locais por não ceder seu lugar no ônibus a uma pessoa branca, o que levou à mobilização comunitária.
À medida que avançamos para a era digital, essa prática antiga ganhou uma nova cara com a ascensão das redes sociais. Agora, com apenas alguns cliques, uma opinião ou ação mal vista pode viralizar e levar a campanhas massivas de cancelamento.
Cultura do Cancelamento nas Redes Sociais
Nas redes sociais, tudo acontece muito rápido. Uma palavra mal colocada, um tweet antigo ou uma opinião polêmica podem incendiar uma verdadeira tempestade. Isso mostra o poder que as redes têm, mas também levanta questões sobre justiça e redenção.
Qualquer atitude considerada discriminatória, injusta, imoral ou antiética pode ser alvo de cancelamento.
Este efeito ganhou força a partir de 2017, com o movimento #MeToo e o aumento da visibilidade de pautas sociais como racismo, feminismo e direitos LGBTQ+ nas redes sociais.
Exemplos de Cultura do Cancelamento
Há muitos exemplos que podemos citar quando falamos de cultura do cancelamento. Celebridades que perderam contratos, empresas que tiveram quedas em suas ações e pessoas comuns que se viram isoladas socialmente por algo que disseram ou fizeram e que não foi aceito pelo público.
A cultura do cancelamento tem afetado diversas figuras públicas no Brasil e no mundo.
Abaixo listamos alguns casos famosos ocorridos nos últimos anos:
Karol Conká: A rapper brasileira foi fortemente cancelada após sua participação no "Big Brother Brasil 2021" devido a atitudes consideradas controversas e agressivas dentro da casa. Suas ações resultaram em uma perda significativa de patrocínios, shows e contratos.
Danilo Gentili: O comediante e apresentador foi alvo de cancelamento em 2018 após fazer piadas de mau gosto sobre a vereadora assassinada Marielle Franco, o que provocou uma reação negativa intensa do público e de ativistas.
JK Rowling: A autora de "Harry Potter" enfrentou intensas críticas e cancelamento em 2020 devido a comentários que foram percebidos como transfóbicos, afetando sua imagem e relação com a comunidade LGBTQ+.
Viih Tube: A personalidade da internet revelou que tentou suicídio após sofrer cancelamento pela primeira vez
Gamer Reckful: Ele foi atacado por internautas após um pedido de casamento e acabou cometendo suicídio, em parte devido à cultura do cancelamento
Kanye West: O influente músico e designer foi criticado e cancelado em 2018 após fazer declarações controversas sobre a escravidão, que muitos consideraram ofensivas e desinformadas.
Consequências da Cultura do Cancelamento
As consequências do cancelamento podem ser severas. Além de perda de oportunidades profissionais e danos à reputação, o impacto emocional e psicológico sobre a pessoa cancelada também é enorme.
Alguns exemplos de consequências são:
Perda de oportunidades profissionais: Como término de contratos, perda de patrocínios e oportunidades de trabalho.
Danos à reputação: Como a deterioração permanente da imagem pública do indivíduo, que gera perda de confiança e o respeito do público.
Isolamento social: Como a exclusão social, onde amigos, colegas e até familiares se distanciam, com medo de associações negativas.
Problemas de saúde mental: Como ansiedade, depressão, estresse pós-traumático e outros problemas de saúde mental devido ao escrutínio e hostilidade sofridos.
Ameaças e assédio online: Como ameaças de morte, comentários abusivos e doxing (divulgação de informações privadas na internet).
Impacto financeiro: como os custos legais caso a pessoa decidir buscar ações judiciais para defender sua reputação.
Problemas familiares e de relacionamento: O estresse causado pelo cancelamento pode se estender à família, afetando relacionamentos interpessoais.
Suicídio ou pensamentos suicidas: Em casos extremos, a pressão e a falta de suporte são tão fortes que podem levar a pensamentos suicidas ou ao suicídio.
Portanto, é fundamental pensar nas repercussões de nossas ações online e no que escolhemos apoiar ou criticar.
Cancelamento, Bullying e Racismo
Importante é notar que a cultura do cancelamento muitas vezes se cruza com questões de bullying e racismo. Atualmente, práticas discriminatórias ou ofensas raciais são quase sempre motivos para cancelamentos.
Essas questões exigem uma compreensão crítica e cuidado para não perpetuar injustiças enquanto tentamos corrigir outras.
Conclusão
Refletir sobre a cultura do cancelamento é essencial. Precisamos nos perguntar: estamos promovendo um ambiente de justiça ou apenas seguindo a multidão?
Como podemos usar nosso poder nas redes sociais para promover mudanças positivas sem prejudicar injustamente os outros? Essas são perguntas que todos nós devemos considerar ao navegarmos pelo complexo mundo das mídias sociais.
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