Cultura de Segurança do Trabalho: O Que é, Tipos e Como Promover
- Rochelle Affonso Marquetto
- há 5 dias
- 7 min de leitura

A cultura de segurança do trabalho é o maior diferencial entre empresas que operam com excelência e aquelas que enfrentam problemas crônicos.
Em 2024, o Brasil registrou 472.328 afastamentos por transtornos mentais relacionados ao trabalho – como ansiedade e burnout, além de grandes perdas econômicas de devido a acidentes e doenças ocupacionais.
Esses dados não deixam dúvidas: mais do que seguir regras, é preciso construir um sistema de valores compartilhados que priorize a saúde física e mental.
Neste artigo, vamos entender o que é esse conceito, quais são os tipos de cultura de segurança, por que ela é vital para a qualidade de vida e a produtividade no ambiente de trabalho, além de apresentar dicas práticas, exemplos e atualizações legislativas recentes.
Se o seu objetivo é construir um ambiente de trabalho mais saudável e seguro, você está no lugar certo.
O que é cultura de segurança do trabalho
A cultura de segurança do trabalho é, em resumo, o conjunto de valores, crenças, percepções e comportamentos que determinam o compromisso de uma organização com a segurança. Mas como surgiu essa ideia?
Historicamente, o conceito nasceu na década de 1980, após grandes acidentes industriais, como o desastre de Chernobyl (1986). A investigação revelou que as falhas humanas e organizacionais eram tão críticas quanto as técnicas.
Assim sendo, surgiu a necessidade de criar não apenas procedimentos, mas uma "cultura" que sustentasse a segurança diariamente.
De fato, hoje, em pleno 2025, a cultura de segurança vai além da proteção física: inclui o cuidado com a saúde mental, a prevenção de burnout, e o suporte emocional aos colaboradores. Portanto, é essencial pensar nela de forma integral, conectando corpo e mente.
Importância de garantir a cultura de segurança do trabalho
Entenda que, sem uma cultura forte de segurança, até mesmo as melhores políticas de prevenção se tornam inúteis. O problema é que, sem essa cultura, o risco de acidentes, afastamentos por doenças ocupacionais e problemas emocionais aumenta drasticamente.
E o que você ganha garantindo essa cultura? Veja esta ampla lista de benefícios:
Redução de acidentes e incidentes.
Aumento da produtividade geral.
Melhoria da saúde mental dos colaboradores.
Fortalecimento da confiança entre equipes e liderança.
Redução de custos com afastamentos e indenizações.
Aumento da satisfação e retenção de talentos.
Fortalecimento da imagem institucional.
Cumprimento das normas regulamentadoras (NRs).
Prevenção de problemas legais.
Criação de um ambiente de trabalho mais humanizado.
Diminuição de estresse ocupacional.
Estimulação de comportamentos de apoio entre colegas.
Por esse motivo, desenvolver essa cultura não é apenas uma obrigação legal, mas também uma estratégia inteligente de crescimento organizacional.
Quais são os tipos de cultura de segurança do trabalho
A cultura de segurança não segue um modelo único e universal. Diferentes organizações desenvolvem diferentes abordagens, influenciadas por fatores como setor de atuação, maturidade organizacional, liderança e contexto social.
Compreender os diversos tipos de cultura de segurança pode ajudar a identificar em qual estágio sua organização se encontra e quais caminhos seguir para evoluir.
Modelos de Cultura de Segurança segundo pesquisadores (2001 - Patrick Hudson):
Patrick Hudson, professor da Universidade de Leiden, desenvolveu um dos modelos mais influentes para classificar a evolução da cultura de segurança, conhecido como "Escada da Cultura de Segurança".
Este modelo identifica cinco estágios evolutivos:
Cultura Patológica: Neste nível mais básico, a segurança é vista como um problema causado pelos trabalhadores. A organização se preocupa principalmente em não ser pega descumprindo regulamentos. A mentalidade predominante é "Acidentes acontecem, faz parte do trabalho".
Cultura Reativa: As organizações começam a levar a segurança a sério, mas ações são tomadas apenas após a ocorrência de acidentes. Predomina a visão de que "Precisamos fazer algo toda vez que temos um acidente".
Cultura Calculativa: Sistemas de gestão de segurança estão implementados para gerenciar riscos. A segurança é abordada de maneira quantitativa, com muitos dados coletados, mas pode faltar engajamento genuíno. "Temos sistemas para gerenciar todos os perigos".
Cultura Proativa: A organização se antecipa a problemas antes que ocorram. Trabalhadores são envolvidos ativamente na melhoria da segurança. "Estamos sempre em alerta para riscos que podem surgir".
Cultura Generativa: Segurança é parte integrante da forma como a organização opera. Existe uma abordagem integrada para gestão de riscos e alta confiança permeia a organização. "A segurança é como fazemos negócios aqui".
Modelo de Ron Westrum (2004)
O sociólogo Ron Westrum focou sua pesquisa em como diferentes culturas organizacionais processam informações sobre segurança. Ele identificou três tipos principais:
Cultura Patológica: Informações são escondidas, mensageiros são "abatidos", responsabilidades são evitadas, as falhas são punidas ou ocultadas, e novas ideias são desencorajadas.
Cultura Burocrática: Informações podem ser ignoradas, mensageiros são tolerados, responsabilidade é compartimentada, as falhas levam a reparos locais, e novas ideias apresentam problemas.
Cultura Generativa: Informações são ativamente buscadas, mensageiros são treinados e recompensados, responsabilidades são compartilhadas, falhas levam a reformas sistêmicas, e novas ideias são bem-vindas.
1997 - Modelo de James Reason
James Reason enfatizou a distinção entre culturas de segurança "informadas" versus "não informadas":
Cultura de Segurança Informada: Caracterizada por sistemas de relatórios confiáveis, confiança organizacional, flexibilidade e vontade de aprender e implementar reformas.
Cultura de Segurança Não Informada: Caracterizada por comunicação deficiente, baixa confiança, rigidez e resistência a mudanças.
Modelos Contemporâneos (2025)
Em 2025, novos modelos surgiram para compreender a cultura de segurança no contexto de ambientes de trabalho altamente tecnológicos e flexíveis:
Modelo Integrado de Saúde Total (Chen & Rodriguez, 2023): Este modelo reconhece a interconexão entre segurança física, saúde mental e bem-estar social, classificando as culturas em:
Cultura Fragmentada: Aborda segurança, saúde e bem-estar como questões separadas, com pouca integração.
Cultura Coordenada: Reconhece conexões entre segurança física e saúde mental, mas ainda mantém programas distintos.
Cultura Holística: Integra completamente segurança física, saúde mental e bem-estar em todos os aspectos da operação organizacional.
Modelo de Resiliência Adaptativa (Hollnagel & Woods, 2021)
Esse modelo contemporâneo foca na capacidade da organização de se adaptar a condições incertas e imprevistas:
Cultura Rígida: Forte dependência de regras e procedimentos, com pouca capacidade de adaptação a situações novas.
Cultura Flexível: Capacidade de ajustar procedimentos conforme necessário, mantendo os princípios de segurança.
Cultura Resiliente: Altamente adaptável, com forte capacidade de antecipar problemas, monitorar operações críticas, responder a distúrbios e aprender continuamente.
Como identificar o tipo de cultura de segurança em sua organização?

Para determinar qual modelo predomina em sua empresa, considere as seguintes perguntas:
Como a organização reage quando ocorre um incidente? Busca culpados ou procura entender as causas sistêmicas?
Os funcionários sentem-se confortáveis para relatar condições inseguras ou quase-acidentes?
A segurança é vista como responsabilidade de um departamento específico ou de todos?
Como a liderança responde quando há conflitos entre metas de produção e de segurança?
A organização investe em medidas preventivas ou apenas reage a problemas?
As respostas a essas perguntas podem revelar muito sobre o tipo de cultura de segurança predominante em sua organização.
E você? Consegue identificar em qual modelo sua empresa se encaixa? Está satisfeito com o estágio atual ou percebe oportunidades de evolução?
Como promover a cultura de segurança do trabalho
Desenvolver uma cultura de segurança robusta não acontece por acaso nem por decreto. É um processo contínuo que exige estratégia, comprometimento e ações concretas em múltiplas frentes.
A boa notícia é que existem caminhos comprovados para fortalecer essa cultura, independentemente do ponto de partida da sua organização.
Estratégias práticas baseadas em evidências
Liderança visível e comprometida:
A cultura de segurança começa no topo. Quando líderes demonstram genuíno compromisso com a segurança, o resto da organização segue o exemplo.
Inclua a segurança como primeiro item em todas as reuniões
Realize "caminhadas de segurança" regulares, onde executivos visitam áreas operacionais para observar e discutir práticas de segurança
Garanta recursos adequados para iniciativas de segurança
Reconheça publicamente comportamentos seguros exemplares
Comunicação aberta e transparente
Uma cultura de segurança saudável depende da livre circulação de informações.
Crie sistemas de comunicação bidirecional que permitam feedback dos trabalhadores
Implemente um sistema de relato de incidentes sem punição ("no blame")
Compartilhe regularmente métricas e informações sobre segurança
Utilize múltiplos canais de comunicação (reuniões, newsletters, aplicativos, painéis visuais)
Participação ativa dos trabalhadores
Quem está na linha de frente conhece os riscos reais do trabalho e deve ser parceiro na construção da segurança.
Forme comitês de segurança com representantes de diversos níveis hierárquicos
Crie programas de observação comportamental entre pares
Solicite input dos trabalhadores antes de implementar novas medidas de segurança
Dê autonomia para interromper trabalhos considerados inseguros
Integração da segurança a todos os processos
A segurança deve fazer parte do DNA da organização, não ser um "add-on".
Incorpore considerações de segurança no desenvolvimento de novos produtos e processos
Inclua critérios de segurança nas avaliações de desempenho de todos os funcionários
Integre segurança ao planejamento estratégico
Considere impactos de segurança em todas as decisões de negócio
Aprendizado contínuo e melhoria
Uma cultura de segurança madura está sempre evoluindo e aprendendo.
Realize análises aprofundadas não apenas de acidentes, mas também de "quase-acidentes"
Implemente comunidades de prática para compartilhamento de lições aprendidas
Crie bibliotecas de casos e soluções acessíveis a todos
Promova benchmarking interno e externo de melhores práticas
Saúde mental e segurança psicológica
Em 2025, está cada vez mais claro que segurança física e mental são indissociáveis.
Treine líderes para reconhecer sinais de estresse, burnout e outros problemas de saúde mental
Ofereça programas de assistência aos funcionários e suporte psicológico
Crie espaços de descompressão no ambiente de trabalho
Realize avaliações regulares de riscos psicossociais
Atualizações na legislação e o foco em saúde mental
Atualmente, negligenciar a saúde mental do trabalhador é considerado infração trabalhista. A nova NR-01 inclui a obrigatoriedade de avaliar riscos psicossociais. Isto é, empresas têm que identificar, prevenir e tratar situações que possam desencadear problemas como ansiedade, depressão ou burnout.
O cenário legislativo em segurança do trabalho passou por importantes atualizações nos últimos anos. Entre as mudanças mais significativas, destaca-se o Programa de Gerenciamento de Riscos (PGR), consolidado em 2023, substituiu o PPRA e trouxe uma abordagem mais sistemática e holística para a gestão de riscos ocupacionais.
Estas mudanças legislativas refletem um reconhecimento crescente da importância da cultura de segurança e da integração entre saúde física e mental no ambiente de trabalho.
Conclusão
A cultura de segurança do trabalho não é um conceito abstrato reservado a grandes corporações. Pelo contrário, é um elemento fundamental para qualquer organização que valorize suas pessoas e busque sustentabilidade a longo prazo. Como vimos ao longo deste artigo, desenvolver uma cultura de segurança sólida traz benefícios que vão muito além da simples redução de acidentes.
É importante lembrar que a jornada para uma cultura de segurança é contínua. Cada organização terá seu próprio caminho, influenciado por sua história, setor de atuação e desafios específicos.
No entanto, os princípios fundamentais permanecem os mesmos: liderança comprometida, comunicação aberta, participação ativa dos trabalhadores, integração aos processos de negócio e foco tanto na saúde física quanto mental. Que tal começar hoje mesmo a avaliar e fortalecer a cultura de segurança em sua organização?
Conheça a Pontual Corporativa
A Pontual Psiquiatria para empresas nasceu para apoiar na construção de ambientes de trabalho mais saudáveis, produtivos e em conformidade com a NR-1.
Invista na saúde mental dos seus colaboradores e transforme o futuro da sua empresa!
👉 Conheça mais clicando aqui.
Comments