Segurança no trabalho: o que é, normas, EPIs, acidentes e prevenção
- Rochelle Affonso Marquetto
- há 1 dia
- 6 min de leitura

Imagine um escritório com cadeiras desconfortáveis, prazos impossíveis, colegas tóxicos, ruídos constantes e ninguém para conversar quando você surta mentalmente. Agora pense em uma fábrica onde o colaborador manuseia máquinas perigosas sem proteção, trabalha em pé por horas e sofre de ansiedade porque vive com medo de errar.
Esses dois cenários são bem diferentes, mas têm algo em comum: a falta de segurança no trabalho, tanto física quanto emocional. E é exatamente sobre isso que vamos conversar.
Este artigo é para você, gestor, líder ou profissional de RH que entende que cuidar das pessoas não é só uma questão legal, mas uma escolha estratégica — e humana. Vamos explorar tudo sobre segurança do trabalho, doenças físicas e emocionais, normas, acidentes, EPIs, e, claro, como prevenir riscos de forma inteligente e sensível.
O que é segurança do trabalho (e por você precisa se atentar)?
Muitos podem pensar que segurança no trabalho se resume a capacetes, sinalizações de risco e extintores de incêndio. Mas... não para por aí.
Segurança do trabalho é um conjunto de ações que visa proteger a saúde física e mental dos trabalhadores. Isso vai desde o uso correto de Equipamentos de Proteção Individual (EPIs), passando por ergonomia, prevenção de doenças, até a construção de um ambiente emocionalmente saudável.
Ou seja, segurança do trabalho também está no tom de voz do gestor, nas metas realistas, no respeito aos limites e no acolhimento emocional.
E por que devemos prestar atenção nisso? Porque empresas não são feitas de cadeiras e paredes. São feitas de pessoas. E pessoas estressadas, com dor nas costas, medo de errar ou em sofrimento psicológico não produzem, não inovam e não ficam na empresa.
Aliás, dados reforçam a importância do tema: só em 2022, o Brasil registrou 612.920 acidentes de trabalho e 2.538 mortes relacionadas. Portanto, não se trata apenas de uma preocupação ética, é uma necessidade real e urgente.
Qual a importância de garantir a segurança do trabalho em ambientes corporativos?
Se você acha que investir em segurança é caro, experimente arcar com os custos de um processo trabalhista ou de uma equipe esgotada emocionalmente. Os números não mentem, e nem os rostos exaustos do seu time.
Segurança no trabalho é produtividade sustentável. E mais:
Evita afastamentos – físicos e emocionais. Burnout, crises de ansiedade e LERs estão entre os principais motivos de afastamento no Brasil.
Reduz rotatividade – funcionários adoecidos pedem demissão ou são desligados.
Melhora o employer branding – quem cuida do seu time vira referência.
Aumenta o engajamento – colaboradores seguros se sentem mais livres para inovar, criar e colaborar.
DICA PRÁTICA: Faça uma escuta ativa semanal. Crie perguntas como:
“Você se sentiu seguro hoje?” – e leve a resposta a sério.
“Teve algo que te causou desconforto ou estresse?”
“Como está o equilíbrio entre demandas e pausas pra você?”
“Você se sente à vontade para pedir ajuda quando precisa?”
“Tem algo no ambiente ou na rotina que poderíamos melhorar?”
Portanto, não adianta perguntar se não for para ouvir de verdade. Escuta ativa exige empatia, acolhimento e ação. As respostas recebidas precisam gerar movimentos concretos — nem que seja uma mudança pequena no curto prazo.
Quais são as principais doenças do trabalho
Segundo o Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) e o INSS, uma doença do trabalho é toda enfermidade que está relacionada direta ou indiretamente às condições em que o profissional exerce suas atividades — seja no ambiente físico, nos processos ou nas relações interpessoais.
Agora, vamos às doenças mais comuns — físicas e emocionais — que, sim, têm respaldo legal como doenças do trabalho.
Doenças físicas ocupacionais (reconhecidas por lei)
LER/DORT: Lesões causadas por esforço repetitivo, más condições ergonômicas e ausência de pausas. Regulamentadas pela NR 17 (Ergonomia).
Doenças respiratórias ocupacionais: como asma ou bronquite por exposição a poeiras, mofo, solventes. A NR 9 (PPRA) exige o controle desses riscos ambientais.
Dermatites de contato e doenças de pele: resultado do manuseio de substâncias químicas sem proteção. Também previstas na NR 9 e na NR 6 (EPI).
Surdez ocupacional: causada por exposição prolongada a ruídos sem proteção auditiva, regulamentada pela NR 15 (atividades insalubres) e NR 6.
Varizes e distúrbios circulatórios: relacionados a longos períodos em pé ou sentado, continuamente ignorados, mas contemplados na NR 17.
Doenças emocionais e psíquicas ocupacionais (com respaldo legal e técnico)
Desde 2001, o Brasil tem uma lista oficial publicada pelo Ministério da Saúde e INSS chamada NTEP (Nexo Técnico Epidemiológico Previdenciário), que vincula atividades profissionais a distúrbios mentais específicos — incluindo burnout, depressão, ansiedade e transtornos de adaptação.
Os mais comuns:
Síndrome de Burnout (CID Z73.0): causada por estresse crônico e exaustão profissional. Reconhecida oficialmente como doença ocupacional pela OMS desde 2019 e já aceita pelo INSS para fins de afastamento e auxílio-doença.
Transtornos de ansiedade (CID F41.1, F41.0): associados a pressão excessiva, prazos inalcançáveis, assédio moral e falta de controle sobre o trabalho.
Depressão (CID F32): não é “frescura” nem “fraqueza”. Em ambientes tóxicos, ela se desenvolve por sobrecarga, isolamento, falta de propósito e apoio emocional.
Síndrome do pânico (CID F41.0): comum em profissionais submetidos a vigilância constante, humilhações ou metas incompatíveis.
Transtornos de adaptação (CID F43.2): após reestruturações traumáticas, demissões em massa, mudanças abruptas de liderança.
Distúrbios psicossomáticos (CID F45): dores físicas causadas por sofrimento mental. Enxaquecas, gastrites, dores crônicas que “não têm causa médica”.
Insônia ocupacional (CID G47.0): quando o estresse impede o trabalhador de descansar, afetando diretamente sua produtividade.
O simples ato de não reconhecer um transtorno como ocupacional pode ser caracterizado como negligência organizacional.
E isso tem consequência jurídica, financeira e moral.
Quais são os acidentes de trabalho mais comuns?
Quando pensamos em acidentes de trabalho, o mais comum é imaginar alguém tropeçando, cortando a mão em uma máquina ou escorregando no chão molhado. E, de fato, esses são exemplos clássicos — mas estão longe de ser os únicos.
O que pouca gente discute é que os acidentes também podem ser emocionais. E esses, muitas vezes, são ainda mais devastadores.
Acidentes físicos:
Quedas – escadas sem corrimão, pisos irregulares ou escorregadios.
Cortes e lesões – manuseio incorreto de ferramentas, falta de EPIs.
Choques elétricos – instalações mal feitas, fios expostos.
Prensamento – máquinas operadas sem segurança ou supervisão.
Exposição a agentes químicos ou biológicos – sem máscara ou com ventilação inadequada.
Explosões e incêndios – muitas vezes por falta de manutenção preventiva.
Acidentes emocionais:
Burnout súbito – aquele dia em que o colaborador "desliga", trava emocionalmente.
Crises de ansiedade no expediente – suor frio, tremores, taquicardia.
Desmaios por pânico – mais comum do que parece, geralmente ligado a sobrecarga ou clima tóxico.
Colapsos nervosos diante de líderes abusivos – um grito, uma humilhação pública, um colapso.
Importante: O Brasil ocupa o segundo lugar no ranking mundial de prevalência da síndrome de burnout, atrás do Japão. Cerca de 30% dos trabalhadores brasileiros apresentam sintomas, segundo pesquisa da International Stress Management Association (ISMA-BR).
Equipamentos de segurança do trabalho (EPI)
EPIs físicos obrigatórios:
De acordo com a NR 6, toda empresa deve fornecer gratuitamente os equipamentos de proteção individual adequados ao risco da função. Exemplos:
Capacetes de segurança – proteção contra impactos e quedas de objetos.
Óculos de proteção – contra partículas, poeira e produtos químicos.
Luvas adequadas ao tipo de tarefa – couro, borracha, térmica.
Protetores auriculares – essencial em ambientes com ruído elevado.
Máscaras e respiradores – para proteger o sistema respiratório.
Calçados com biqueira de aço ou antiderrapante – em setores de logística, construção ou hospitalar.
EPIs emocionais:
Se os riscos emocionais são reais, a proteção também precisa ser. Não existe um “capacete para o burnout”, mas há estratégias que funcionam como verdadeiros EPIs emocionais:
Programas de apoio psicológico (EAPs) – atendimento psicológico gratuito ou subsidiado.
Ambientes silenciosos e com pausas estruturadas – sim, o silêncio é um equipamento de proteção emocional.
Espaços de descompressão – uma sala com plantas, puffs, música leve.
Treinamento de lideranças em inteligência emocional e comunicação não-violenta.
Flexibilização de horários – para adaptar à rotina pessoal e reduzir estresse.
Como prevenir acidentes do trabalho?
Abaixo, estão ações práticas que sua empresa pode (e deve) implementar agora:
Mapeie todos os riscos — físicos e emocionais
Use ferramentas como o GRO (Gerenciamento de Riscos Ocupacionais) e o PGR (Programa de Gerenciamento de Riscos) para identificar perigos em todas as frentes: máquinas mal reguladas, ambientes barulhentos, posturas forçadas, líderes opressores, metas desumanas.
Treine constantemente — e com foco em pessoas
Treinamento não é palestra chata no PowerPoint. É capacitação real sobre:
Uso de EPIs.
Primeiros socorros físicos e psicológicos.
Prevenção de assédio moral e sexual.
Gestão do estresse e autocuidado.
Fortaleça canais de escuta e acolhimento
Crie espaços onde as pessoas se sintam ouvidas sem julgamento. Uma ouvidoria emocional pode ser mais eficaz que qualquer auditoria técnica.
Invista em ergonomia real — e adaptável
Ajuste de cadeira, teclado, iluminação. Mas também ajuste de ritmo, volume de tarefas e tipo de demanda. Não existe ergonomia se a mente está em colapso.
Promova pausas obrigatórias e micro momentos de respiro
Uma pausa de 10 minutos a cada 90 de trabalho melhora a produtividade e reduz drasticamente o risco de esgotamento mental.
Capacite líderes para prevenir crises emocionais
Liderança não é sobre cobrança. É sobre suporte. Treinar gerentes para perceber sinais de exaustão emocional evita muitos afastamentos e melhora o clima organizacional.
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