Autocompaixão e autocrítica: como a forma como falamos conosco influencia a saúde emocional
- Rochelle Affonso Marquetto

- há 1 dia
- 3 min de leitura

Você já parou para prestar atenção em como conversa consigo mesmo? Muitas vezes, nossa voz interna é muito mais dura do que seria com qualquer outra pessoa. Frases como “você não é bom o suficiente” ou “deveria ter feito melhor” são exemplos de autocrítica excessiva, que pode comprometer a saúde mental.
Por outro lado, desenvolver autocompaixão, a capacidade de tratar a si com compreensão, gentileza e empatia fortalece a resiliência emocional e promove bem-estar.
O que é autocrítica?
A autocrítica é a tendência de avaliar a si de forma rígida, muitas vezes com foco em falhas, erros e limitações. Ela pode ter dois lados:
Construtiva: quando ajuda a refletir sobre atitudes, aprender com experiências e melhorar comportamentos.
Destrutiva: quando se transforma em julgamento cruel e constante, gerando sentimentos de inadequação, culpa e vergonha.
O problema surge quando a autocrítica deixa de ser ferramenta de crescimento e se torna fonte de sofrimento psicológico.
O que é autocompaixão?
A autocompaixão é a habilidade de oferecer a si o mesmo cuidado que daríamos a um amigo querido em um momento difícil. Isso não significa se acomodar ou evitar responsabilidades, mas sim cultivar aceitação, empatia e gentileza diante de falhas e limitações.
Segundo a psicóloga Kristin Neff, referência mundial no tema, a autocompaixão envolve três pilares:
Autogentileza: tratar-se com carinho em vez de dureza.
Humanidade comum: reconhecer que todos erram e enfrentam dificuldades.
Atenção plena (mindfulness): observar emoções e pensamentos sem exagero ou negação.
Como a forma de falar consigo mesmo afeta a saúde emocional
A maneira como lidamos com nossas falhas e desafios impacta diretamente na saúde mental.
Excesso de autocrítica pode gerar:
Ansiedade e estresse crônico.
Depressão e baixa autoestima.
Dificuldade em manter relacionamentos saudáveis.
Perfeccionismo paralisante.
Prática da autocompaixão promove:
Maior resiliência emocional.
Redução da autossabotagem.
Aumento da motivação saudável.
Melhoria no bem-estar geral.
Em outras palavras: a autocrítica severa mina a confiança, enquanto a autocompaixão cria base emocional para crescer com equilíbrio.
Diferença entre autocompaixão e acomodação
Um dos maiores mitos sobre a autocompaixão é confundi-la com acomodação. Muitas pessoas acreditam que ser gentil consigo mesmo significa se tornar preguiçoso ou evitar responsabilidades.
Na verdade, pesquisas mostram o contrário: pessoas autocompassivas têm mais motivação intrínseca, porque aprendem com os erros sem ficarem presas à culpa ou ao medo de falhar. Elas seguem em frente com mais leveza e persistência.
Estratégias para cultivar a autocompaixão
Se a sua voz interna é mais crítica do que acolhedora, é possível treinar o cérebro para desenvolver autocompaixão. Veja algumas práticas eficazes:
1. Reconheça sua voz autocrítica
O primeiro passo é perceber quando está sendo duro demais consigo mesmo. Anote frases comuns da sua autocrítica e reflita: “Eu falaria isso para alguém que amo?”
2. Substitua julgamento por acolhimento
Troque frases como “sou um fracasso” por “errei, mas posso aprender com isso”. Pequenas mudanças na linguagem têm grande impacto emocional.
3. Pratique o mindfulness
Exercícios de atenção plena ajudam a observar pensamentos críticos sem se identificar com eles. Assim, você cria espaço para responder de forma mais compassiva.
4. Escreva uma carta para si
Imagine que está consolando um amigo em crise e escreva as mesmas palavras de apoio só que direcionadas a você.
5. Exercite a autogentileza no corpo
Alongamentos, respirações profundas e até um simples toque no coração podem ser lembranças físicas de cuidado consigo mesmo.
6. Procure apoio terapêutico
A psicoterapia é um espaço seguro para trabalhar padrões de autocrítica e aprender técnicas para fortalecer a autocompaixão.
Como equilibrar autocrítica saudável e autocompaixão
Não é necessário eliminar a autocrítica por completo. Ela pode ser útil quando usada de forma equilibrada e construtiva. O segredo está em encontrar o ponto de equilíbrio:
Autocrítica saudável: “Esse resultado não foi o esperado, o que posso melhorar na próxima vez?”
Autocompaixão: “Tudo bem não ser perfeito, aprendi algo importante com essa experiência.”
Juntas, essas duas perspectivas formam uma base sólida para o crescimento pessoal sem sofrimento excessivo.
Transforme como fala consigo mesmo
A maneira como você conversa internamente pode ser sua maior fonte de apoio ou de sabotagem. Enquanto a autocrítica severa alimenta ansiedade, insegurança e baixa autoestima, a autocompaixão promove resiliência, motivação e bem-estar.
Cultivar uma voz interna mais acolhedora é um exercício diário, mas que traz resultados transformadores. Afinal, se falamos com carinho com quem amamos, por que não fazer o mesmo conosco?
Tratar-se com compreensão não é fraqueza: é um caminho poderoso para construir uma vida emocional mais saudável e equilibrada.




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