
Você já ouviu falar em trauma vicário? Esse termo é utilizado para descrever o impacto emocional que vivenciamos ao testemunhar ou ouvir sobre o sofrimento de outras pessoas.
É mais comum em profissionais que trabalham diretamente com traumas, como psicólogos, médicos, bombeiros e assistentes sociais, mas pode afetar qualquer pessoa exposta a histórias traumáticas de forma repetitiva.
No Brasil, onde a taxa de abuso e violência doméstica é extremamente alta (cerca de 3 em cada 10 brasileiras são vítimas), é comum que profissionais de apoio sofram os efeitos do trauma vicário.
Nesse artigo, vamos falar de forma mais aprofundada sobre esse assunto, acompanhe!
O que é o trauma vicário?
O trauma Vicário ocorre quando um profissional internaliza as experiências traumáticas de seus pacientes, o que causa alterações profundas em suas crenças e percepções sobre si, sobre outras pessoas e sobre o mundo ao seu redor.
Esse fato costuma resultar em sintomas como pensamentos intrusivos, pesadelos, diminuição da motivação e até flashbacks.
Como o trauma vicário se desenvolve?
A exposição contínua a situações traumáticas pode ocorrer de várias maneiras como:
Ouvir relatos detalhados de vitimização.
Ver imagens ou vídeos perturbadores.
Analisar arquivos de casos de violência.
Participar de investigações de cenas de crime.
Prestar assistência em emergências médicas envolvendo ferimentos graves.
Trabalhar em programas de apoio a vítimas de desastres naturais.
Prestar apoio a vítimas de abuso e violência doméstica.
Também é muito comum jornalistas e profissionais de mídia que trabalham em áreas de conflito ou guerra desenvolverem o problema.
Esses profissionais estão muito expostos a imagens e histórias de dor e sofrimento, o que pode levar a sintomas semelhantes ao trauma direto.
Mudanças na vida de quem é exposto ao trauma vicário
O impacto do trauma vicário costuma variar de pessoa para pessoa, mas existem reações comuns como:
Mudança na visão de mundo: As pessoas podem se tornar mais cínicas ou medrosas, ou, por outro lado, mais apegadas ao que têm.
Mudança de comportamento: Irritabilidade, explosões de raiva ou comportamento agressivo.
Perda de interesse em atividades: Falta de motivação para realizar atividades que antes eram prazerosas.
Sentimento de impotência: Sensação de que não pode fazer nada para mudar a situação. Exemplo: O voluntário de um abrigo pode sentir que seu trabalho é inútil diante de tanto sofrimento.
Em alguns casos, o trauma vicário apresenta desdobramentos ou manifestações específicas, tais como:
Fadiga da Compaixão
Um dos efeitos mais comuns do trauma vicário é a fadiga da compaixão.
Esse termo descreve o esgotamento emocional que sentimos após nos importar em demasia com o sofrimento dos outros.
Principalmente os profissionais de saúde precisam administrar essa fadiga para continuar a cuidar bem de seus pacientes.
Durante a pandemia, por exemplo, cerca 78% dos profissionais da saúde apresentaram sinais de esgotamento e síndrome de Burnout.
Estresse Traumático Secundário
O estresse traumático secundário é outra forma de trauma vicário.
Geralmente ele aparece quando ouvimos de maneira repetida histórias de traumas que começam a impactar nossa própria saúde mental.
É como se estivéssemos absorvendo a dor da pessoa que passou diretamente pelo trauma.
Vitimização Secundária e Traumatização por Procuração
A vitimização secundária e a traumatização por procuração são termos usados para descrever o efeito negativo de escutar histórias de traumas, mesmo que não tenhamos vivido a experiência.
Esses termos ressaltam que não é necessário passar pelo trauma pessoalmente para sentir suas consequências devastadoras.
Sintomas de trauma vicário
O trauma vicário pode causar uma série de sintomas emocionais e físicos, tais como:
Ansiedade e Depressão: Sentimentos de tristeza profunda e ansiedade.
Fadiga e Exaustão: Sentimento de cansaço constante e falta de energia.
Problemas de Sono: Insônia ou sono em excesso.
Sintomas Físicos: Dores de cabeça, dores musculares e problemas digestivos.
Problemas de Relacionamento: Dificuldade em manter relacionamentos saudáveis.
Quem corre o risco?
Qualquer pessoa que trabalhe de modo direto com sobreviventes de traumas pode ser afetada.
Fatores que aumentam o risco incluem:
Experiências traumáticas anteriores: Ter um histórico pessoal de trauma tende a aumentar a vulnerabilidade.
Isolamento social: Falta de apoio social no trabalho ou fora dele.
Falta de treinamento e supervisão: Não estar adequadamente preparado ou supervisionado pode aumentar o risco.
Exposição contínua a traumas: Trabalhar continuamente com casos traumáticos sem variação nas tarefas.
Como lidar com o trauma vicário?
Autocuidado: Dê prioridade a atividades que tragam bem-estar, como exercícios físicos, hobbies e alimentação balanceada.
Apoio social: Construa uma rede de apoio com seus colegas, amigos e familiares.
Estabeleça limites: Procure separar seu trabalho da vida pessoal para evitar o esgotamento emocional.
Educação e treinamento: Participe de treinamentos sobre trauma vicário para aprender técnicas que minimizem os efeitos.
Supervisão regular: Tente se encontrar regularmente com supervisores ou mentores para falar sobre as dificuldades enfrentadas e buscar orientação.
Praticar Mindfulness: Incorpore exercícios de atenção plena na sua rotina diária para ajudar a manter o foco e reduzir o estresse.
Meditação: Reserve um tempo no dia para meditar, acalmar a mente e reduzir a ansiedade.
Terapia: Faça sessões regulares com um terapeuta para falar sobre seus sentimentos.
Jornalização: Mantenha um diário para escrever sobre experiências e emoções.
Pausas Regulares: Faça pausas durante o trabalho para evitar a sobrecarga emocional.
Exercícios Físicos: Pratique atividades físicas, seja uma caminhada, uma dança ou qualquer outra atividade que lhe seja prazerosa.
Sono Adequado: Garanta uma boa qualidade de sono, pois ele é fundamental para a recuperação emocional.
Exposição à Natureza: Passe tempo ao ar livre, em parques ou áreas verdes, para reduzir o estresse.
Mantenha o Humor: Cultive o humor e o riso em sua vida para aliviar a tensão.
Resiliência Vicária e Transformação Positiva
Nem todas as respostas ao trauma vicário são negativas.
A resiliência vicária, por exemplo, significa a capacidade de encontrar força e crescimento pessoal ao trabalhar com traumas.
Podemos dizer que algumas pessoas se tornam mais empáticas e apreciativas após testemunhar a resiliência das vítimas.
Conclusão
A compreensão e o tratamento do Trauma Vicário são fundamentais para garantir a saúde mental dos profissionais que trabalham com vítimas de trauma e violência.
Empresas e organizações devem priorizar a identificação de fatores de risco e proteção, além de investir em ferramentas e modelos de apoio para proteger seus colaboradores e garantir um ambiente de trabalho mais saudável.
Se você sofre com esse problema ou conhece alguém que está passando por isso não deixe de buscar ajuda, entre em contato para agendar uma consulta.
Cuidar da sua saúde mental é tão importante quanto cuidar de qualquer outra área da sua vida.
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