Luto prolongado: quando a dor ultrapassa o comum e prejudica o dia a dia
- Rochelle Affonso Marquetto

- 18 de set.
- 3 min de leitura

Perder alguém querido é uma das experiências mais difíceis da vida. O luto normal traz dor, saudade e adaptação gradual. Porém, algumas pessoas vivenciam algo mais profundo e duradouro, o chamado luto prolongado ou complicado, que extrapola os padrões esperados e atrapalha a rotina cotidiana.
Este artigo traz um olhar objetivo sobre o que diferencia o luto prolongado do luto normal, quais sinais observamos, e como oferecer suporte a quem está passando por isso.
O que é luto prolongado?
O luto prolongado (também chamado complicated grief, prolonged grief disorder ou persistent complex bereavement disorder) é um distúrbio reconhecido pelo DSM‑5‑TR (desde março de 2022) e pela CID‑11, caracterizado por uma dor intensa que persiste por mais de 12 meses (6 meses em crianças) e interfere gravemente no funcionamento diário
O luto prolongado e as emoções dolorosas são tão intensas e duradouras que a pessoa tem dificuldade de se recuperar da perda e retomar a própria vida (Eisma, 2023).
Sinais diferenciados do luto prolongado
Comparado ao luto “comum”, o luto prolongado envolve:
Anseio ou saudade extrema e contínua, quase todos os dias;
Dificuldade em aceitar a morte, com negação persistente;
Preocupação obsessiva com o falecido, busca por sinais ou recordações físicas (PMC);
Evitar lembranças ou lugares ligados à pessoa perdida;
Dor emocional profunda, tristeza intensa, culpa, raiva ou amargura constante;
Sentir que a vida perdeu sentido, que não há mais razão para seguir adiante;
Isolamento social, falta de interesse por atividades que antes faziam sentido ;
Sintomas físicos ou mentais graves: insônia, alterações de peso, problemas cardíacos; às vezes ideação suicida voltada ao desejo de estar com o falecido .
Um sintoma frequente é o "pining", aquele desejo intenso de estar junto da pessoa falecida, o que difere da depressão clínica por estar centralizado na perda .
Como diferenciar do luto normal?
Critério | Luto normal | Luto prolongado |
Tempo | Melhora significativa entre 6–24 meses | Intensidade se mantém ou piora após 12 meses |
Aceitação | A dor diminui, a vida continua mesmo com a saudade | A pessoa parece “parada no tempo”, sem aceitar a perda |
Funcionamento diário | Atividades voltam gradualmente | Rotina comprometida; dificuldade de retomar vida normal |
Foco da tristeza | Sentimentos ligados à pessoa e adaptação | Foco obsessivo no falecido e na própria dor |
Semelhanças com depressão | Tristeza vem em ondas, intercaladas por bons momentos | Tristeza constante e ruído de desesperança; quase sem prazer |
Por que o luto se torna prolongado?
Vários fatores podem contribuir:
Perdas traumáticas ou súbitas;
Falta de fechamento (não dizer adeus);
Vulnerabilidade emocional prévia (ansiedade, depressão);
Conflito no relacionamento com o falecido;
Pouco suporte social;
Culturas que limitam manifestações de luto (Thriveworks).
Como ajudar alguém com luto prolongado?
Acolher sem julgamentos
Ouça com empatia e valide: “Não precisa ter pressa para ficar bem” (Daily Telegraph).
Oferecer ajuda prática
Auxilia em tarefas cotidianas (compras, contas) quando percebe que a pessoa está sobrecarregada .
Estimular a busca por suporte especializado
Profissionais que fazem terapia focada em luto prolongado, como Prolonged Grief Therapy (PGT) ou terapias cognitivas com exposição, são eficazes (Verywell Health).
Promover rituais de despedida
Ritualizar a dor por meio de cartas, memoriais ou celebrações simbólicas pode facilitar a aceitação.
Oferecer companhia nas datas delicadas
Fique presente em aniversários, aniversários de falecimento e outras datas que reativem a dor .
Estimular atividades que conectem com a vida
Convite para passeios, hobbies ou encontros com apoio suave .
Confiar na importância do suporte comunitário
Grupos de apoio (presenciais ou online) auxiliam na sensação de pertencimento e acolhimento.
Quando é hora de intervir?
Se após 6 a 12 meses os sintomas estiverem intensos e recorrentes, e a pessoa não consegue retomar a vida, ela pode estar com transtorno de luto prolongado. É momento de incentivar o passo fundamental: buscar ajuda profissional .
Encurtando a jornada sem apressar o coração
Ofereça contato regular, sem pressão para “seguir em frente”.
Respeite o ritmo da pessoa enlutada.
Mantenha-se informado sobre o luto prolongado.
Não intimide com conselhos simplistas; frases como “tenha fé” ou “você precisa reagir” mais confundem do que ajudam.
O luto é normal e necessário, mas quando ultrapassa o comum, prejudica profundamente e emperra a vida, merece atenção especializada. Em apoio a alguém nessa situação, é essencial ser constante, sensível e paciente, oferecendo ajuda prática e emocional.
Você pode ser o apoio que faz a diferença tanto enquanto caminham juntos pelo luto quanto ao incentivar a reconstrução da vida.




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