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Luto prolongado: quando a dor ultrapassa o comum e prejudica o dia a dia

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Perder alguém querido é uma das experiências mais difíceis da vida. O luto normal traz dor, saudade e adaptação gradual. Porém, algumas pessoas vivenciam algo mais profundo e duradouro, o chamado luto prolongado ou complicado, que extrapola os padrões esperados e atrapalha a rotina cotidiana.


Este artigo traz um olhar objetivo sobre o que diferencia o luto prolongado do luto normal, quais sinais observamos, e como oferecer suporte a quem está passando por isso.


O que é luto prolongado?

O luto prolongado (também chamado complicated grief, prolonged grief disorder ou persistent complex bereavement disorder) é um distúrbio reconhecido pelo DSM‑5‑TR (desde março de 2022) e pela CID‑11, caracterizado por uma dor intensa que persiste por mais de 12 meses (6 meses em crianças) e interfere gravemente no funcionamento diário 


O luto prolongado e as emoções dolorosas são tão intensas e duradouras que a pessoa tem dificuldade de se recuperar da perda e retomar a própria vida (Eisma, 2023).


Sinais diferenciados do luto prolongado

Comparado ao luto “comum”, o luto prolongado envolve:

  • Anseio ou saudade extrema e contínua, quase todos os dias;

  • Dificuldade em aceitar a morte, com negação persistente;

  • Preocupação obsessiva com o falecido, busca por sinais ou recordações físicas (PMC);

  • Evitar lembranças ou lugares ligados à pessoa perdida;

  • Dor emocional profunda, tristeza intensa, culpa, raiva ou amargura constante;

  • Sentir que a vida perdeu sentido, que não há mais razão para seguir adiante;

  • Isolamento social, falta de interesse por atividades que antes faziam sentido ;


Sintomas físicos ou mentais graves: insônia, alterações de peso, problemas cardíacos; às vezes ideação suicida voltada ao desejo de estar com o falecido .


Um sintoma frequente é o "pining", aquele desejo intenso de estar junto da pessoa falecida, o que difere da depressão clínica por estar centralizado na perda .


Como diferenciar do luto normal?

Critério

Luto normal

Luto prolongado

Tempo

Melhora significativa entre 6–24 meses

Intensidade se mantém ou piora após 12 meses

Aceitação

A dor diminui, a vida continua mesmo com a saudade

A pessoa parece “parada no tempo”, sem aceitar a perda

Funcionamento diário

Atividades voltam gradualmente

Rotina comprometida; dificuldade de retomar vida normal

Foco da tristeza

Sentimentos ligados à pessoa e adaptação

Foco obsessivo no falecido e na própria dor

Semelhanças com depressão

Tristeza vem em ondas, intercaladas por bons momentos

Tristeza constante e ruído de desesperança; quase sem prazer


Por que o luto se torna prolongado?

Vários fatores podem contribuir:

  • Perdas traumáticas ou súbitas;

  • Falta de fechamento (não dizer adeus);

  • Vulnerabilidade emocional prévia (ansiedade, depressão);

  • Conflito no relacionamento com o falecido;

  • Pouco suporte social;

  • Culturas que limitam manifestações de luto (Thriveworks).


Como ajudar alguém com luto prolongado?

  1. Acolher sem julgamentos

    • Ouça com empatia e valide: “Não precisa ter pressa para ficar bem” (Daily Telegraph).

  2. Oferecer ajuda prática

    • Auxilia em tarefas cotidianas (compras, contas) quando percebe que a pessoa está sobrecarregada .

  3. Estimular a busca por suporte especializado

    • Profissionais que fazem terapia focada em luto prolongado, como Prolonged Grief Therapy (PGT) ou terapias cognitivas com exposição, são eficazes (Verywell Health).

  4. Promover rituais de despedida

    • Ritualizar a dor por meio de cartas, memoriais ou celebrações simbólicas pode facilitar a aceitação.

  5. Oferecer companhia nas datas delicadas

    • Fique presente em aniversários, aniversários de falecimento e outras datas que reativem a dor .

  6. Estimular atividades que conectem com a vida

    • Convite para passeios, hobbies ou encontros com apoio suave .

  7. Confiar na importância do suporte comunitário

Grupos de apoio (presenciais ou online) auxiliam na sensação de pertencimento e acolhimento.


Quando é hora de intervir?

Se após 6 a 12 meses os sintomas estiverem intensos e recorrentes, e a pessoa não consegue retomar a vida, ela pode estar com transtorno de luto prolongado. É momento de incentivar o passo fundamental: buscar ajuda profissional .


Encurtando a jornada sem apressar o coração

  • Ofereça contato regular, sem pressão para “seguir em frente”.

  • Respeite o ritmo da pessoa enlutada.

  • Mantenha-se informado sobre o luto prolongado.

  • Não intimide com conselhos simplistas; frases como “tenha fé” ou “você precisa reagir” mais confundem do que ajudam.


O luto é normal e necessário, mas quando ultrapassa o comum, prejudica profundamente e emperra a vida, merece atenção especializada. Em apoio a alguém nessa situação, é essencial ser constante, sensível e paciente, oferecendo ajuda prática e emocional.


Você pode ser o apoio que faz a diferença tanto enquanto caminham juntos pelo luto quanto ao incentivar a reconstrução da vida.


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