O capacitismo é um termo que vem ganhando espaço nas conversas sobre inclusão e respeito. Mas, afinal, o que ele significa? Basicamente, capacitismo é o preconceito e a discriminação contra pessoas com deficiência, enxergando-as como menos capazes ou como alguém que precisa sempre de "ajuda" ou "consertos".
Esse tipo de visão além de limitar as oportunidades para essas pessoas, também reforça estigmas e barreiras que dificultam a inclusão verdadeira.
Infelizmente, o problema está mais presente no nosso cotidiano do que imaginamos, e muitas vezes, atitudes capacitistas podem surgir sem que a gente perceba.
Por isso, é essencial entender melhor o assunto e evitá-lo. Só assim teremos um ambiente mais inclusivo e respeitoso para todos.
Como o Capacitismo Aparece no Dia a Dia
O capacitismo pode aparecer em pequenas atitudes e frases, desde achar que uma pessoa com deficiência não pode fazer determinada atividade até tratar alguém como "coitadinho" só por estar em uma situação de deficiência. Comentários como “Você é tão inspirador por trabalhar mesmo tendo deficiência” ou “Que pena que ele não consegue fazer isso” são exemplos de frases capacitistas.
Esses comentários, mesmo que venham de uma boa intenção, acabam reforçando a ideia de que pessoas com deficiência são inferiores ou incapazes de viver uma vida plena.
Quais são os Tipos de Capacitismo?
O capacitismo pode surgir de diversas formas, e, segundo o Guia Anti Capacitista de Ivan Baron, podemos classificá-lo em três tipos principais:
Capacitismo Médico: Surge quando pessoas com deficiência são vistas como "doentes" ou "em recuperação". Esse olhar exageradamente clínico considera a deficiência como algo a ser "consertado" e reduz a complexidade da experiência da pessoa.
Capacitismo Recreativo: Caracteriza-se por piadas e brincadeiras de mau gosto que usam deficiências como tema. Expressões como "fingir demência" ou "dar uma de João sem braço" são exemplos de linguagem capacitista, muitas vezes usadas sem pensar, mas que reforçam preconceitos e estigmatizam.
Capacitismo Institucional: É quando organizações ou empresas atendem a cotas para pessoas com deficiência sem, no entanto, proporcionar uma inclusão real, tratando esses profissionais com desigualdade ou não garantindo acessibilidade no ambiente de trabalho.
Exemplos de Frases Capacitistas para Evitar
Muitas expressões comuns no dia a dia são carregadas de capacitismo.
Veja alguns exemplos para eliminar do vocabulário:
"Tão bonita, nem parece deficiente" - Sugere que a aparência deve corresponder a um estereótipo de deficiência, o que é desrespeitoso.
"Você é um exemplo de superação" - Minimiza as lutas reais das pessoas com deficiência ao reduzir suas conquistas a uma narrativa de superação.
"Ele nem parece autista" - Implica que a aparência deve indicar uma condição e invalida as experiências de pessoas autistas
"Finge demência" - Usar termos médicos como insultos reforçam estigmas e é desrespeitoso.
"Você fala? Nem parece que é surda" - Minimiza a identidade surda e perpetua estereótipos específicos.
"Que mancada" - Associa erros a deficiências físicas.
"Você está cego/surdo?" - Usar deficiências como metáforas para comportamentos não respeitosos.
"Você é retardado?" - O uso deste termo como insulto perpetua preconceitos contra pessoas com deficiência intelectual.
"Desculpa de aleijado, é muleta" - Minimiza as dificuldades enfrentadas por pessoas com deficiência.
“Você não tem cara de autista” - estereotipa e invalida a diversidade das experiências no espectro autista.
“Seu problema não tem cura?” - Enxerga a deficiência como algo que precisa ser "curado" ou "consertado".
“Pensei que você era normal” – Supõe que pessoas com deficiência são "anormais", o que reforça um olhar preconceituoso e excludente.
“Será que seus filhos vão nascer normais?” - Sugere que uma deficiência é um "defeito" hereditário e indesejável, criando preconceito sobre a capacidade de pessoas com deficiência de serem pais.
Essas expressões associam deficiências a estados indesejáveis ao diminuir a complexidade das experiências vividas.
Como Denunciar Atitudes Capacitistas
Enfrentar o capacitismo é um dever de todos e, em casos de discriminação, a denúncia é uma ferramenta essencial.
No Brasil, temos dois canais gratuitos, seguros e anônimos, para realizar denúncias de discriminação ou violência contra pessoas com deficiência:
Disque 100: Canal de atendimento para denunciar qualquer forma de discriminação. A Ouvidoria Nacional de Direitos Humanos do Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania (MDHC) gerencia o serviço e protege a identidade de quem denuncia.
Ligue 180: Específico para casos de violência contra mulheres, incluindo mulheres com deficiência, também administrado pela Ouvidoria Nacional de Direitos Humanos.
Segundo o MDHC, o Disque 100 registrou mais de 394.482 denúncias de violações contra pessoas com deficiência em 2023, um crescimento de 50% em relação a 2022.
Dentre os principais casos estão negligência (47 mil denúncias), riscos à saúde (43 mil), maus tratos (37 mil) e tortura psíquica (34 mil). Esse aumento reflete a necessidade urgente de conscientização e combate ao capacitismo.
Dicas para Combater o Capacitismo no Cotidiano
Para além das denúncias, combater o capacitismo é algo que podemos fazer em nossa rotina.
Veja algumas sugestões práticas:
Use a terminologia correta: em vez de usar termos como "deficiente" ou "especial", prefira "pessoa com deficiência". Essa forma de falar coloca a pessoa em primeiro lugar, não a condição.
Evite elogios exagerados: Tratar alguém como "exemplo de superação" só por realizar tarefas comuns pode parecer um elogio, mas, na verdade, reforça estereótipos. Pessoas com deficiência não são heróis por viverem suas vidas – assim como todos, têm talentos e limitações próprias.
Pergunte se precisam de ajuda antes de ajudar: Em vez de assumir que alguém precisa de assistência, pergunte primeiro. Muitas pessoas com deficiência preferem realizar atividades de forma independente e sentem-se mais respeitadas quando sua autonomia é reconhecida.
Aprenda e incentive a acessibilidade: A acessibilidade é um direito básico, não um "luxo". Se você organiza eventos, reuniões ou administra espaços, busque garantir acessibilidade para todos. Isso inclui rampas, legendas em vídeos, textos descritivos em imagens, entre outros.
Evite comparações: Frases como “Pelo menos você não é tão limitado quanto fulano” são extremamente capacitistas. A deficiência não é uma "escala" e não deve ser usada para medir a capacidade ou o valor de ninguém.
Promova a diversidade e o respeito: Cada pessoa é única e tem algo a contribuir. Valorizar a diversidade é não só um direito, mas uma forma de enriquecer o ambiente de trabalho, a sociedade e até nossas relações pessoais.
Conclusão
O capacitismo é uma realidade que precisa ser enfrentada com conhecimento, respeito e ações diárias. Denunciar é importante, mas evitar atitudes e falas capacitistas é um passo essencial para uma sociedade mais justa e inclusiva.
Ao refletirmos sobre nossas atitudes e buscarmos entender as necessidades das pessoas com deficiência, contribuímos para um ambiente igualitário e sem barreiras, onde todos têm a chance de viver e se expressar plenamente.
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